O egoísmo de alguns custará a vida de muitos

Se tem uma coisa que não entra na minha cabeça de jeito nenhum, é como a humanidade - principalmente os brasileiros - consegue continuar levando a vida normalmente sem se comover nem um pouco com quase 400 mil mortes de pessoas em decorrência do coronavírus. Não se comovem com quase 100% de leitos de hospitais ocupados em quase todos os estados do país. Não se comovem com o desespero de pessoas que estão morrendo asfixiados por falta de oxigênio. Não se comovem com a exaustão e estafa dos profissionais de saúde que IMPLORAM para que a população fique em casa por eles também. 

O prefeito da minha cidade, Piracicaba, decretou lockdown por aqui, mas boa parte das pessoas está mais preocupada com DINHEIRO do que com VIDAS que estão sendo perdidas. Sei que tem pessoas que vivem com menos de um salário mínimo e que trabalham para ter o que comer no dia, mas essas restrições são a única maneira no momento de conter a disseminação do vírus. 

A minha tia por parte de pai, contraiu o vírus em sua mutação mais grave. Estava até ontem internada no oxigênio, com dificuldade de respirar, não conseguia comer nada. Felizmente o caso dela regrediu e começou a voltar a respirar sozinha. A voz dela ainda está rouca por causa das tosses constantes, mas já consegue se alimentar melhor. Minha prima que é filha dela, também foi infectada, porém os sintomas foram mais leves. Meu tio-avô (irmão do meu avô) está internado na UTI por causa do vírus. Ele está muito agitado pois a família não está podendo visitá-lo. E hoje, soube que ele está com embolia pulmonar e o médico disse que não tem mais o que fazer no caso dele. Dois casos na minha família de mutação grave... 

O governador de São Paulo adiantou alguns feriados para essa semana e muita gente tem decido para as cidades do litoral. Isso é um absurdo tão grande que chega a ser decepcionante. Brasileiro costuma reclamar tanto dos nossos governantes mas quando chega a hora de fazer a nossa parte, não estão nem aí. O que eu vejo de gente nas redes sociais elogiando a Europa, Austrália e Nova Zelândia pelo seu excelente trabalho com a pandemia não são poucos. Hipocrisia, não?

Sempre dizem que é nas dificuldades da vida que descobrimos o real caráter das pessoas, e nessa situação de pandemia pudemos perceber isso. As ditas "pessoas de bem" são as primeiras a darem o famoso jeitinho brasileiro - o que eu sempre odiei, diga-se de passagem - em meio a quarentena.

Ninguém gosta de ficar preso em casa sem fazer nada. Ninguém gosta de ter que se limitar. Mas quando se trata de VIDAS, as nossas vontades precisam ser deixadas de lado para preservá-las. Pelo nosso bem e de todos a nossa volta. 

Eu não vou mentir e pagar de certa em tudo pois já furei algumas vezes a quarentena. Mas não fui em ambientes aglomerados ou fechados. Quase sempre fui na Rua do Porto caminhar na beira do rio, ou sentar por lá e ficar conversando sem ninguém ao lado. Inclusive, meu melhor amigo se infectou com o vírus mas eu não.

O que eu mais vejo são pessoas insistindo em dizer que templos religiosos são serviços essenciais. Mas sabem o que eu penso? Ninguém precisa de uma construção específica pra exercer sua fé. Se a pessoa for cristã que conhece a Bíblia, ela sabe que nela está escrito "O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo Senhor do céu e da Terra, não habita em templos feitos por mãos dos homens (Atos 17:34)". Eu fui criada em uma família católica fervorosa, fui batizada, fiz primeira comunhão, fui crismada - hoje não pratico a religião e discordo de muitos dogmas dela - e sei disso, porém quando falo essa passagem da Bíblia até mesmo para meus familiares, eles insistem que "não é bem assim". Ah tá, então quer dizer que só usam a Palavra de Deus quando convém? Suspeitei desde o princípio. 

Eu acredito na teoria que diz que, se você precisa de uma religião para ser bom, então você não é bom. Na verdade, a frase se aplica perfeitamente nos ditos "cidadãos de bem", que insisto em dizer que de "bem" não tem nada. Se não se importa em quantas pessoas vão morrer, então você não é uma pessoa boa. É isso.